quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Firme Solidão

Da janela do serviço, em uma manhã de quinta-feira e ao som de Leone, enquanto aguardo as pautas que sempre chegam no fim da tarde, com dead line justíssimo só pra fazer jus a profissão jornalística, observo um dia chuvoso.

Do alto do prédio com uma ampla visão, me recordo de um texto de Arnaldo Jabor em que ele diz que a solidão é o mau do século. Ele fala da solidão exclusivamente num relacionamento a dois, onde as pessoas são sozinhas nas coisas mais simples como passear de mãos dadas ou curtir um dia chuvoso debaixo de cobertas e comendo pipoca. Porque sexo sempre há e pra isto a solidão é facilmente eliminada.

Mas não é apenas “a dois” que a solidão existe. Ela prevalece em quase todos os relacionamentos humanos.
Está chovendo e as janelas estão todas fechadas. Fico pensando nessas casas fechadas. Mas logo o pensamento volta à visão. Observo o vai e vem dos carros. A maioria absoluta está com apenas um ocupante. Bem aqui em frente um homem troca o pneu de seu carro; sozinho.

Entendo. Toda esta solidão tem nome: é segurança. As casas fechadas protegem filhos da periferia que muitas vezes passam os dias sozinhos enquanto seus pais vão a busca de um futuro melhor. Os motoristas solitários da semana, em seus caros carros estão atrás de contratos, negócios e é preciso mesmo ir sozinho porque alguns detalhes os funcionários não podem ter acesso. A dificuldade encontrada pelo homem, que debaixo de uma chuva forte troca o pneu de seu antigo carro é também solitária porque pode ser um truque para atrair um crime.

Nas buscas, geralmente estamos sozinhos. A solidão é segura. Não há riscos, não há envolvimentos. Mas a nossa segurança é frágil ao contrário da solidão que está cada vez mais firme.

A chuva ficou mais forte. Menos gente nas ruas. Os poucos correm ou se protegem com guarda chuva, sobras de teto ou sob galhos de árvores. Ninguém se atreve a água. Molhar-se significa perder a segurança de voltar a cadeira do escritório, o almoço no restaurante ou a reunião importante.

E a solidão segue com segurança, esta que se desmancha com algumas gotas do céu.

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