sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Viajando com as montanhas


Tenho poucos medos nessa vida. Talvez sobrem dedos de uma mão para enumerá-los. Um deles, não sei bem se é medo, mas é algo que muito me faz pensar: montanhas.
Adoro viajar, mas sempre que a estrada tem como paisagem montanhas, eu fico apreensiva. Quanto mais alta e fechada for a montanha, mais longe vão meus pensamentos . Acho que irracionalmente luto para tentar quebrá-las, vencê-las.

Os carros passando, toda a vida das cidades acontecendo e as montanhas sempre lá, como grandes observadoras da situação. Mas não são simples espectadoras, elas são superiores, estáticas. E eu tenho pavor de coisas sem movimentos.
Não há a menor graça quando não existe interatividade. E isto serve tanto para objetos, natureza, quanto para pessoas.

Sabe, eu prefiro o vento que pode vir e acabar com tudo e nos dá a possibilidade da reconstrução, do que as montanhas, paradas, sólidas, firme, frias, mas que nunca se renovam.
Assim é meu gosto também com humanos. Prefiro os que chegam, arrasam, caem, levantam e passam a vida num vendaval, do que aquelas pessoas que servem de exemplo por ter conseguido uma vida estável e sólida e bla bla blas.

É sempre assim, em toda viagem, eu viajo. Seja por estradas, por pensamentos ou por picos de montanhas.

Abaixo uma poesia MARAVILHOSA, de autoria de Luciano Pereira de Souza que descreve perfeitamente esses meus sentimentos.

EU QUE QUERIA SER RIO

Eu tinha um caminho a trilhar,
mas resolvi estacionar.
Optei pela velha realidade
e afoguei a minha verdade,
por medo de perder aquilo que não poderia ter.

Eu que queria ser rio, hoje sou montanha.
Acabei trocando o meu mundo
por um maldito canudo.
Agora vivo a me anestesiar
pensando em algum dia acordar.

Hoje, sou um homem sério, conquistei a minha paz de cemitério
Eu que queria ser rio, hoje sou montanha.
Agora só importa o material
e isso me faz tão mal.

Eu que sonhava com grandes vitórias
acabei mudando o curso da minha história.
E o meu sonho de infância foi sufocado pela minha ignorância.

Eu que queria ser rio, hoje sou a montanha.
Se pudesse voltar atrás
abriria mão dessa suposta paz.
E ficaria em constante perigo,
mas satisfeito comigo.
Só quis escutar a razão, agora não me sinto bem
com meu coração.

Eu que queria ser rio, hoje sou a montanha.


Luciano participa do Entremeio Literário criado pela coordenadoria de Cultura de Mogi das Cruzes. Para conhecer este e mais outros expressivos escritores compareça ás “Terças Literárias”, a partir das 19h no Casarão do Carmo, na própria cidade de Mogi.

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